Saturday 16 May 2020

5 May 2004

Hoje é 4 ou 5 de maio 2004. Não contei que eu fiquei um mês internado no Hospital Emilio Ribas. Mais! fiquei lá um mês e meio. Fiquei praticamente preso. É tão deprimente passar por isso.

Hoje é quarta-feira. Já aproveitei bastante este dia. Consegui pintar uma tela. Já ganhei o dia. Depois eu escrevo e conto daqueles dias no hospital. 

Antes quero 'falar' do negócio que vou fazer com meu pai. Ele tem um salão comercial que recentemente foi desocupado e está lá vazio. Então eu pensei que seria legal montar lá um ateliê de costura, uma pequena confecção de camisas e mais algumas outras coisas. Primeiro faríamos camisas que é uma 'coisa' fácil de vender. É uma ideia que já há um tempo eu estou imaginando como seria; montar um ateliê de roupas bem 'transadas', pintura em tecido feito-a-mão. Totalmente viável, eu achei.

Agora, antes de fazer qualquer coisa, meu pai e eu temos que falar, conversar com minha mãe e irmã. Minha irmã também está no negócio; vamos ver se elas topam, será? Eu acho que sim; hoje a noite conversaremos com elas.

Faz um bom tempo que eu pinto em tecidos, nas sedas, nas malhas... dá vontade de montar o cenário. Quero uma coisa bem de sonhar, de viagem. Estou muito animado. Quero planejar um desenho, uma armação do que imagino e jogar para o Universo, como sempre faço e é fácil acontecer aquilo que se imagina.

Já imagino muitos tecidos pintados, um com listras, outro com flores, até tudo ser transformado em camisas, camisas, camisas. Agora é a hora, agora, Sr. Jaime; agora é a hora.

E a tarde já está indo com seus pássaros de fundo. Quero pintar um tecido com girassóis. Eu gosto de pintar flores. Já pintei tantos tipos; bem miudinhas e outras bem grandes. Pintei tulipas; me lembra muito de Amsterdam, daquelas tardes gélidas... preciso pintar urgente estes tecidos que estão aqui comigo; são recortes de seda e micro-fibra. Preciso comprar as aquarelas para seda.

25 de Março é a rua onde se compra de tudo. Como eu gosto daquela região! Faz um bom tempo que não vou até lá. Preciso comprar zíper e linha para bordar as bolsas; Anchor é a marca que eu uso. 

Hoje pintei duas telas de 100 x 160 para a Sabina Libman. Sabina tem comprado minhas telas. Fiquei muito feliz com o resultado sendo a tela basicamente azul meio-escuro. Vai ficar linda num lugar bem adequado.


Estou com tanta energia hoje. Parece que estou cada dia melhor. Hoje vendi um quadro pelo telefone. Liguei para uma amiga aí; ela me falou que uma amiga dela viu um quadro meu e me pediu para pintar um para ela. Eu gosto de dinheiro e preciso muito dele ainda. Uma hora que eu não precisar tanto, aí fico mais relaxado.

Pedi ao meu pai para ir comprar telas p'ra mim na oficina de Marcos / Chico. Preciso de muitas telas compridas para os desenhos das figuras 'fashion'. Amanhã é quinta-feira. Será que minha mãe deixa meu pai ir comprar as telas para eu pintar a encomenda? Ela é meio esquisita quando o assunto é o pai.

Deve de ser umas quatro-e-meia, mas a tarde já está escurecendo; um céu cinza. Estou sentindo meu corpo bem quente. Meu coração está rodeado de calor amarelo de .... Que sensação gostosa; combina com que gosto. Já está escurecendo mesmo.

Maio é bem florido. Quero meus gerânios vermelhos e um copo de água gelada.


Hoje é seis de maio. Está um dia chuvoso, e acabei de chegar ao ateliê. Hoje vou terminar a tela que está no painel. As vezes eu fico enrolando para pintar uma tela. Outras, a tela já sai pronta de ...

Ontem pintei uma tela azul. Saiu com tanta naturalidade. Não precisei forçar. Hoje eu queria repetir a dose, será possível? Ontem 'tava meio ou muito excitado. Nem meio estou hoje. Parece que dia chuvoso combina com não-fazer-nada quando se está em casa. 

Amanhã, sexta-feira, talvez dê para terminar as telas. Preciso recortar uma lona para fazer tela. Esta é também para a Sabina Libman. Qual é mesmo o tamanho? Acho que dois metros por oitenta centímetros. Vou inventar com prateado e vermelho ou um pouco de preto. Azul, amarelo, azul e vermelho, dourado, prateado. Pintura é pintura. 

Também preciso pintar uma tela de um formato pequeno comprida, de apenas um metro por quinze ou vinte centímetros. São vários croquis; desenho meio aquarela; parece desenho de moda. São croquis de desenho de modelo feminino estilizado feito muito rápido em traços elegantes e incisivos pelo estilista ou desenhista. São desenhos que sugerem, as vezes, silhuetas de mulheres magras, elegantes, em traços muito rápidos. São vários desenhos, acho que uns vinte ou vinte-e-cinco na pequena tela, um ao lado do outro. Uma grande fila, cada um mostrando seu 'modelo'. Para fazer isto preciso comprar uma tela comprida. Quem deve ter? Preciso ligar para o Chico-das-telas. 

Hoje é 7 de maio 2004; Sexta chuvosa, não dá para sair. Ontem foi a mesma coisa, chuva o dia inteiro. Falamos ontem que iríamos ao mercado e no comércio fazer compras, mas está impossível porque a estrada que nos leva ao asfalto da pista da Rodovia Dom Pedro II é toda de terra, e como uma máquina passou na estradinha-de-terra para acertar a própria, agora faz muito barro e os carros não passam. Aí, meu Pai disse que se melhorasse o tempo, a gente sairia. Vamos ver! Mas não é possível. Tá com cara que vai chover o dia inteiro. Aí, nós tomamos café e conversamos sobre a chuva e o tempo. Como a gente não sairia, acabei vindo para minha casa-studio terminar telas que foram interrompidas, não por muito tempo, uns dois dias, no máximo.

Esta semana, que hoje termina, foi razoável. Consegui terminar uma tela; ficou toda em azul - as duas partes - é um díptico de quase dois metros por noventa de altura. Ficou bem bonito. 

Estou aqui sentado na cama e escrevendo, o que não devia. Só vim até o quarto para buscar 'meu cigarro' e acabei abrindo este caderno e escrevendo isto. Mas eu vou parar, depois continuo.

Saturday 9 May 2020

Another day at Jaime's life... 17 January 2004.

Ontem, sexta-feira (16) e hoje sábado (17) passei só comendo chocolate, sorvete e biscoito de chocolate. Fiz um pote ontem... bem como eu gosto: 1/2 amargo e coloquei cognac também. Ficou uma delícia. Comi todo hoje.

Amanhã é domingo, estou querendo fazer mais outro pote e servir como sobremesa do almoço de domingo para a família. Tenho que fazer mais de duas receitas para todos daqui. Uma pessoa sozinha come até um pote de meio quilo. Não é por isso que eu vou fazer seis kilos de sorvete; cada um comendo uma taça pequena já é o suficiente para o bom paladar. Eu gosto de me empanturrar de sorvete depois fumar um cigarro.

Está um vento gelado; preciso fechar as janelas. Já escureceu...


Sábado, 17 de janeiro 2004, foi um dia legal. Fui até a mercearia e comprei chocolate meio-amargo em barra, cerejas em conserva e creme-de-leite para misturar o chocolate... e aí, vira sorvete. Vim até a cama para relaxar um pouco.

Mônica ligou e chorou ao telefone; brigou com o namorado e terminaram. Preciso fazer um chocolate para ela; faria mudar seus ares e esquecer desse fato por enquanto.

Tá me dando uma secura na boca. Acho que vou procurar algo para comer. Aproveitar e fazer o sorvete. Desta vez vou caprichar. Nem receita preciso ler, nem olhar, OK?

Vou para Rio Claro semana próxima. Aí vou me juntar às pessoas daquela casa... as mulheres. Nunca vi quantas mulheres eu conheço; ai elas me apresentam outras e outras.

Paola, oi, vou estar aí logo para a gente fazer aquele livro inteiro de chocolate.

Hoje, já se foi o domingo, 18 de janeiro 2004.

Trabalhei o dia inteiro em uma única coisa e ainda não consegui terminar: é uma bolsa feita em lona e bordada. O trabalho maior é o bordado. Tem que se ter muita paciência. Até que eu tenho. Agora aos quarenta anos - nunca antes considerava essa palavra - acho que não entrava no meu vocabulário. Ter paciência é coisa de gente velha? Agora eu já acho que não. O que importa?

Importa que bem no finzinho do domingo eu aproveitei o silêncio da casa e fui lá na cozinha e fiz duas latas de creme-de-leite e quatro ovos virarem sorvete com mais um punhado de de chocolate picado e mais cerejas. Ficou pouco mais de duas horas no congelador e já fui experimentar. Como diria o Marcelo: 'Está dos deuses, Ashley?!'

Ficou muito cremoso e com pedaços de chocolate e cerejas p'ra mastigar leve e elegantemente. Esse sorvete de chocolate combina com beijo de língua bem dado.

Estou com sono. Não quero acordar tarde amanhã porque a Neide vem trabalhar bem cedo e eu quero que ela costure a bolsa em primeiro lugar. Antes, acho que ela vai limpar o banheiro e lavar um pouco de roupa. Depois costurar as bolsas e por último limpar a casa. Ciao, buona notte.


Hoje é segunda-feira, 19 de janeiro 2004.

Passei mal do estômago hoje, logo depois do café. Comi mais sorvete e o almoço em seguida. Acabei por vomitar tudo. Onde já se viu? Parece que nunca viu comida?

Hoje o dia não fora nada produtível. A Neide veio trabalhar mas não conseguiu costurar a tampa da bolsa e mais umas coisinhas que eu queria fazer.

Mas estamos indo muito bem. Este ano não posso perder tempo. Tenho que conseguir um volume de trabalho p'ra poder mandar para outros lugares. Este ano nada me escapará! Vou manter o projeto de trabalho sempre OK e se desenvolvendo. Quero fazer uma mostra das bolsas bordadas e outros desenhos bordados também. Preciso dar continuidade as coisas que comecei no ano passado como os bordados. A ideia de bordar em lona e montar bolsas disto é muito recente e eu tenho que cuidar muito bem p'ra brilhar como objeto de arte, isto é, ter o seu devido valor como object d'art.

Agora são pouco mais de 9 horas e estou na mesa do café. Fiz um café tão cheiroso; isto porque eu passei mal do estômago precisei tomar comprimidos para dor, e agora eu faço um café tremendamente forte! Vai falar, n'é?

Agora já se foi o café, mas que estava delicioso, ah, isto estava. Ah! e antes tomei mais um pouco de sorvete de chocolate; um chocolate bem forte, bem marrom, e bem cremoso também; e mastigar as cerejas. Outro? É tudo! como diria Marcelo.


Estou trabalhando numa outra versão da bolsa de gato, e vou parar de escrever e voltar p'ra bolsa pois preciso dela pronta até quinta-feira. Depois eu continuo. Esse caderno é assim mesmo; para se escrever aos poucos. Até mais!

Friday 8 May 2020

22 January 2004, a day in the life of Jaime Ponciano...

Hoje é dia 22 Janeiro 2004. Acordei muito tarde, mais de meio-dia... aí, que parece que o dia não vira, não dá em nada!

Ontem fui dormir umas três horas da tarde (15:00) e acabei ficando na cama até as oito da noite (20:00). Não é exagero dormir tanto assim? Depois, quem disse que eu consegui dormir de novo? Fiquei até umas cinco da madrugada virando de um lado p'ro outro.

O dia ficou meio nublado, mas ainda não começou a chover - talvez no final do dia caia alguma chuva. Quando neste tempo de janeiro o clima está chuvoso, é gostoso ficar em casa sem muito o que fazer - somente fazendo as coisas gostosas - comer chocolate, sorvete, ver filme, deitar e rolar na cama.

Casa é o melhor lugar p'ro ser humano se refazer de todo o peso que é a existência.

Dormi e voltei, agora são quase nove horas, escureceu logo, o tempo voa mesmo!

Repeti hoje o que fiz ontem, dormi demais à tarde e depois não durmo nada à noite. Pelo menos o que fazer não falta se aparecer qualquer insônia; tem telas para continuar, livro p'ra limpar e reorganizar etc.

Mas o que eu queria mesmo era a TV e o DVD com vários filmes. Preciso parar de enrolar e ir diretamente à loja e comprar de uma vez. Já falei muito - e pouca ou nenhuma ação. Não é (mas parece) bicho de sete cabeças esta estória. Não sei porque ainda não comprei o tal DVD com TV. Parece uma coisa impossível! Já está me dando nos nervos, mas sem a menor dúvida vou resolver isto na próxima semana. Não me custa tanto assim... depois tenho que comprar um note-book e um aparelho de CD.

Já tomei café (há pouco) e quero novamente tomar! Queria, na verdade, era tomar sorvete, mas não temos o creme de leite. Amanhã vou comprar várias latas de creme de leite e umas barras de chocolate meio-amargo e com nozes, amêndoas, pistache, passas, damasco seco etc. Aquele sorvete incrementado com chocolate em pedaços, não deixá-lo dissolver no creme e gema que são levados em banho-maria, colocar depois que o creme estiver bem misturado com as gemas e frio já; ai, sim, colocar o chocolate em pedaços.

Hoje é outro sábado, 23 de janeiro 2004. Precisa passar tão rápido assim? Faz um mês amanhã que jantamos, ou ceamos na noite do dia 24 de dezembro 2003, Natal! A comida estava uma coisa! em casa de Erwin e Paola, amigos de Rio Claro-SP. O lugar é a coisa mais linda, as praças públicas nem se fala; e as arvores flamboyant por todo lugar que se ia, se via a formosura de uma delas com aquele tom de amarelo-laranja. De onde e quem inventou que seria para flamboyant? Quem escolheu aquele primor de estranha flor com aquela cor que chama a vida de quem passa? Inventaram tal perfeição numa arvore; a copa achatada e os galhos retorcidos. O desenho é tão... de passar mal.

Rio Claro é um nome tão curto e tão claro - bonito. Clarice gostaria de Rio Claro?

As casas são organizadas em quarteirões quadrados e até caí na tentação de morar uma temporada em Rio Claro. Quem sabe? Se tiver um trabalho dá p'ra conseguir o resto. Quero aumentar o volume de trabalho neste 2004. Vou me concentrar o máximo para que tudo que eu fizer daqui em diante seja brilhante. A única coisa que eu quero é ter meu trabalho cada vez interessante e útil para alguém ou alguma coisa. Estou gostando do que está acontecendo, estou deixando fluir a a criação, a ação, a hora certa. Parece que se vai adivinhando aos poucos um caminho calmo, gostoso e macio. Nada de pedras e espinhos, só quero o macio do meu caminho!

Há gente que usa constantemente palavras como 'sacrifício' ou expressões como 'não é fácil' ou 'está difícil'! Meu pai mesmo as usa sempre. Elas acabam tendo poder real no universo. Eu sei o que está errado; as vezes penso se é bom que fique assim mesmo ou que se corrija. Sei lá, quero estar o máximo de bem a qualquer momento. Como se diria hoje: 'eu sou o máximo!'.

Volto a ler o que escrevi e vejo e sinto como eu escrevo mal. Só não vou queimar este caderno pois tenho preguiça de perder tanto tempo com nada de útil.


Hoje é domingo, 25 de janeiro 2004, aniversário de São Paulo. Falaram tanto desta comemoração dos quatrocentos-e-cinquenta anos dela, ouvi no radio ontem no jornal também.

São Paulo é uma cidade bem louca. Tem coisa bonita e coisa absurda. Ouvi falarem que o Mário de Andrade já há mais de 60 anos ficava muito deprimido com a falta de valor que seus...

Preciso de um café. Vou fazer um bem forte e esquentar aqueles pães; estão muito brancos, moxibentos (?) e elasticados.

Amanhã é segunda-feira; preciso ir até a capital comprar material, lona e linha para bordar. Levar aquela linha azul que eu comprei em Rio Claro; procurar um novelo maior com aquele tom mais azul. Preciso comprar várias coisinhas para a casa, mas não sei se agora. Preciso terminar aqueles desenhos das telas.

Hoje, dia 26 de janeiro 2004. Adorei esse dia!!! Deu tudo tão certo que eu quase nem acreditei.

Precisava há muito comprar TV e vídeo, mas não queria pagar tudo à vista porque ando meio duro, e fazer crediário em loja nem pensar, pois não tenho como provar renda etc. Mesmo assim fui até uma Loja Bahia e me informei. Não me lembro onde ouvi alguém (ou na TV) dizer que não precisava ter carteira (de trabalho) assinada e aquele monte de papel que sempre desanimava a quem pretendia usar deste benefício. Não acreditei quando o 'cara' (vendedor) fez uma ficha e pediu para levar até o crediário da loja. Ai dei o telefone da pessoa a quem presto serviço p'ra checar o que eu havia falado e deu tudo OK. Me deram TV e DVD no mesmo momento e um carnê anexo contendo onze prestações de pouca mais de cem reais que eu terei um ano para liquidar.